terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Para o bem do planeta*



Queria dizer-te da importância de certos gestos nossos para a conservação da natureza, como a obediência dos teus pêlos aos avanços da minha língua quando esta te varre a pele, alisando-a contra o sentido do vento. Queria dizer-te que são fundamentais, para o equilíbrio do universo, para o alinhamento dos chakras e para o perfeito feng shui das divisões de todas as casas, os teus mergulhos por entre as minhas pernas e o tempo em apneia que por lá demoras, o suficiente para que a paz no mundo e a harmonia entre os povos não sejam meras utopias. Queria dizer-te que é quando me sulcas por dentro com movimentos desencontrados e espavoridos como o bater das asas de uma borboleta, que o caos se organiza e que factos importantes acontecem no lado oposto do mundo; que do entrelaço das minhas pernas nas tuas depende a preservação das espécies e que a sincronia das nossas respirações anelantes diminui sensivelmente o buraco do ozono e todos os malefícios conexos. Queria dizer-te que é absolutamente indispensável para o fim da fome e das guerras, que me dobres e me vires, que me avesses e me endireites e me faças gritar o teu nome; e que quanto mais vingar a distância que existe entre nós, maior o degelo nos glaciares e o perigo de extinção dos ursos, por ali à deriva sem poiso. Queria dizer-te da extrema necessidade de os dois sermos às vezes um só, pois da fusão nuclear que resulta da fricção do Amor dependem avanços energéticos em prol da sustentabilidade do planeta. E que o facto de me exigires e de me quereres de certas maneiras, conduz à reflorestação de zonas áridas e à protecção de zonas húmidas e do respectivo habitat, o que faz com que o mundo respire melhor, devidamente oxigenado.

por Pena Branca*

O homem perfeito.

Hoje em conversa com primas veio à baila a conversa do homem perfeito. Ah e tal isso não existe, eu sei, não podemos acreditar no príncipe, etc. Mas... e se existisse, como era para ti o homem ideal? Todas elas referiram as características da praxe, divertido, culto, inteligente, charmoso/sexy (muito mais do que propriamente bonito), carinhoso, blá blá blá. Mas houve três pontos que referiram que me deixaram a pensar. A saber: 1. que não goste de futebol; 2. Que saiba dançar; 3. que seja muito educado: lhes abra a porta, lhes vista o casaco, lhes arraste a cadeira para se sentarem, etc etc etc. E visto que isto não tem nada a ver comigo, venham de lá as minhas explicações:

1. Que não goste de futebol. Ora, mas que tipo de homem não gosta de futebol? Leitores masculinos que não gostam de futebol que me perdoem mas homem que não gosta de futebol eu desconfio, e muito!. Isto porque eu também gosto mesmo muito de futebol. Eu passei anos (e não foram poucos) a ver semanalmente jogos do Moçambola e - pasmem! - quando não podia ir ver ao vivo, ouvia o relato em casa. Agora imaginem o que é ouvir 90 minutos do relato de um Textáfrica de Chimoio-Chingale de Tete, um Wane Pone-F.C de Lichinga. Pois! Ontem à noite, chateada com aquele programa que deu na SuperSport HD à 00:45, eu poderia ter mudado de canal para ver a nova temporada de House, o diário da OT, ou o Best Dance Crew na MTV. Mas não. Mudei para ver o rescaldo do Mundial 2010 que ao menos (re)via alguns dos meus a ganhar. Por isso acho bem que o meu homem goste de futebol que não quero ter que me chatear para assinarmos a Super Sport ou ficar sozinha na sala a ver o Benfica enquanto ele vai para o quarto ver a Anatomia de Grey no PC.

2. Que não saiba dançar. Bom, há o não saber e o não gostar. Eu particularmente gosto (muito) de dançar e não me importava nada de ensinar-lhe se ele assim o desejasse. Mas também, se ele não quisesse aprender, deste que não fizesse um basqueiro cada vez que eu saísse pra dançar ou torcesse o nariz enquanto eu danço não me importava mesmo nada. Há coisas muito mais importantes que ele deve saber fazer, e a dança não faz (felizmente) parte desse rol ;).

3. Que seja o supra sumo da educação. Oh pá, que me abram a porta para eu passar ainda vá que não vá ou até ao andar num passeio irem do lado de fora (houve quem brincasse com esta minha aversão a estas etiquetas e dissesse que só me deixavam ir do lado de dentro do passeio porque se eu fosse do lado de fora e um carro me atropelasse, não saberia o que me dizer nos meus últimos minutos de vida). Agora que me vistam o casaco? Um gajo que me viesse vestir o casaco era ver-me oh amigo, já me visto sozinha desde os 3 anos, deixa lá isso. Então arrastar-me a cadeira no restaurante para eu me sentar tira-me mesmo do sério. Porque até podemos dar aquele jeitinho, deixá-lo empurrar-nos a cadeirinha como se tivessemos dois anos, mas a verdade é que depois TODA a gente tem que puxar a cadeira mais para a frente ou fica longe da mesa pra caraças. 
Achava eu que era exigente mas pelos vistos há quem seja pior. Para mim, se analisarmos bem as coisas, o homem ideal é um adepto ferrenho aí do bairro, alto, que passa à minha frente em tudo e ainda por cima deixa a porta bater-me na cara. Um must!

domingo, 26 de dezembro de 2010

Diabo em forma de Anjo?!

Sou diferente, quando não estou contigo: argumentativa, influente, persuasiva, convincente. Sou a que arrasta multidões, a que quando fala os outros baixam as orelhas, a que tem histórias para contar, teses para defender e pontos de vista para demonstrar, catedrática e exegética. Mas olho-te a boca e fico assim, meio gaga e cacofónica, trapalhona e concordante, onomatopeica e monossilábica, tímida e desconchavada, acometida de dislexia verbal, a querer tomar-te o hálito e desapertar-te as calças, como se nisso residisse toda a minha erudição. Sou palavras que se trocam, raciocínios descabidos, piadas sem graça nenhuma e pernas sem poiso certo que me vão sobrando por debaixo da mesa. À vista dos teus olhos, que se cerram devagar enquanto me engolem inteira, vão-se num ápice, a extremosa educação de colégio, os pudores e o civismo, a contenção e a compostura, e eu intuo mais do que entendo e farejo mais do que penso. Porque há qualquer coisa em ti que quase me priva de humanidade, que faz de mim um bicho, uma fêmea no cio reduzida à urgência do instinto animal, a querer obrigar a tua cabeça ao desfiladeiro entre as minhas pernas. E isto porque os teus olhos e a tua boca, porque ainda e sempre a tua boca, eloquente, concisa e segura, como se isso importasse alguma coisa. A tua boca, em nome da qual apetece erguer altares, queimar incensos, acender velas, fundar uma religião, recortes e ex votos colados à cabeceira da cama, preces diárias, promessas. Sou diferente, quando não estou contigo, sou razão pura e não esta fé pagã; sou cidade, prédios e prumos, e não um punhado de terra molhada, fecunda e seminal. Sou o perímetro exterior de mim própria e não o âmago de tudo o que afinal me compõe.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

não me mintas.

Hoje tive uma noite dificil. Acordei com um mau-humor que não é habitual em mim. A primeira coisa que pensei foi espero que ninguém me venha moer a cabeça que hoje sou bem senhora para mandar as pessoas para um certo sítio que eu cá sei. Tomei um comprimido para as dores de cabeça just in case porque na realidade ainda não me doía. Já passava da hora do lanche quando me mandaste mensagem para jantar. Apeteceu-me muito dizer hoje não que não estou para aturar ninguém mas não quis ser mal educada e então lá aceitei. Não queria daqueles jantares demorados onde invariavelmente tu pedias um bitoque, eu pasta mexicana, tu sumo de laranja e eu coca. Mas foi. Eu devia estar numa espécie de transe patrocinado pelo raio do comprimido porque estava a fazer tudo ao contrário do que queria quando acordei. Deves ser tu que me pões assim, calma e inexplicavelmente bem disposta. Olha, até te digo que poderíamos ter seguido para a sobremesa e mais tarde para uma ceia e depois para o que quisesses porque estava mesmo a ficar melhor mas tu decidiste levar-me a casa. Já passavam das 22 e eu aceitei porque o ac estava à minha espera e eu precisava de refrescar os pés que entretanto tinham ficado transpirados. E lá fomos nós a cantar aos berros as músicas que passavam no rádio e a sorrir para as criancinhas que iam nos outros carros e ligaste o ar condicionado e eu já tinha os pés gelados.

E depois paraste à frente de minha casa e deste-me um beijo e disseste boa noite, meu amor. E eu quase morri à tua frente. Comecei a transpirar outra vez. E posso-te dizer que não terei uma boa noite como tu me desejaste porque o meu coração andou a saltitar entre o quentinho das tuas palavras, do teu sorriso e a incerteza, a confusão, o medo de teres dito aquilo por dizer. Percebes? Chamaste-me amor e eu não sei o que isso quer dizer.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Beijar-te, eu? Não sejas tolo.

Beijar-te, eu? Não sejas tolo. 
Só entorto o meu pescoço na direcção da tua cara porque me deu um torcicolo, foi enquanto dormia e não, não sonhava contigo, era dura a almofada, uma questão de posição, não consigo endireitar-me. Que os meus olhos (dizes) fixos na tua boca? Ora essa, impressão tua, fiquei vesga subitamente, até fui ao oftalmologista, receitou-me um colírio que arde, acredita que vejo a dobrar, nem percebo quem me rodeia: em que lado estás tu, afinal? Que a minha mão faz tudo (afirmas) para agarrar a tua mão? É só uma cãibra súbita, que me impele os músculos dos dedos, hirtos e desobedientes, na direcção dos teus; foi um espasmo aleatório, uma mera casualidade, coincidência espacial. Que a minha perna esquerda (insistes), encostada sem grandes pudores à tua perna direita? Tropecei há dias na escada, estou dorida e fraca do joelho, até um bocadinho coxa, por isso me apoio em ti não vá eu cair outra vez. Que o meu nariz (parece-te), fareja abertamente os recantos da tua nuca? É que trazes um cheiro diferente que não consigo definir, terás mudado de perfume?, o meu interesse nas intersecções do teu corpo é meramente científico, acredita. Que a minha boca, entreaberta (inventas), à porta da tua boca? Está apenas de passagem, vai a caminho do teu ouvido, quero dizer-te um segredo, uma confidência importante, deixa-me pensar o que poderá ser. Que o meu peito (desconfias), se arremessa contra o teu como quem não quer a coisa? Uma tontura, um quase desmaio, é do calor, da falta de açúcar, se beber uma coca isto passa. Que o meu cabelo se eriça (teimas) e se agarra à tua pele? Electricidade estática, como sabes, um fenómeno muito comum. Este suspiro profundo, em que parece que espalho a alma toda pelo ar? Dificuldade em respirar, culpa do tempo seco, do calor, das alergias. 
Não é (nem por sombras, não é), o desabafo feliz de quem disse ao tempo que parasse, que tudo assim só mais um bocadinho (e a quem o tempo obedeceu). 
Beijar-te, eu?! Não sejas tolo.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

[sem título]

Fica à saber que não tenho medo. Que não tenho pudor nem moral e que não é a religião que me salva. Mais do que agnóstica, sou ateia, pernóstica, sou copérnica: circundo-te heliocêntrica, e que se lixem os outros. As outras. A outra. Aquela com quem estás agora. Doemos o seu corpo à ciência, abandonemo-la à sua sorte. Sou imatura e irresponsável, não vou à missa, mostro as pernas  e faço beicinho para que sejas meu. Para de ti dispôr como quiser, vens ou ficas, vais ou vens-te. Mortifica-te, estás à vontade, o remorso a jorrar de ti madrugada fora, porque o que é teu está irremediavelmente em mim e se calhar vice-versa, nem mil duches te salvam, nem esfregado a pedra pomes, a pele numa chaga viva. Fica sabendo que não hesito; que espezinho e que comando; que faço fitas e abandono, e que não sou de fiar. És-me tão difícil quanto inesperado; és a incoerência, a incongruência, a vida vista de baixo para cima. És o dueto entre a raiva e a meiguice, entre o medo que tens do medo e a investida cega do herói solitário.  Terás um dilema moral por resolver, e eu o diabo no corpo, toma lá que é para aprenderes. Quero-te perto, nas imediações, não me interessa se agora não dá, faz a trouxa e vem de malas aviadas que a estada pode prolongar-se. Sou egoísta, esporádica, imódica, e às vezes até asmática. Falta-me o ar quando me ignoras, arremelgo os olhos e arquejo, não tenho culpa, é uma doença, uma condição que me definha, tragam-me a bomba por favor. Morro se me viras as costas, se não me telefonas, se não me envias bonecos tontos que se rebolam a rir quando a ocasião pediria apenas um breve sorriso contido. Morro e olha, eu não brinco com estas coisas, vou parar-me já o coração. Escuta, ainda bate, o parvo, o teimoso: já te disse que às vezes (muito às vezes) te adoro?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

talvez seja eu que tenha um karma muito mau...

Eu acho que nós, mulheres, temos tendência a ser um bocadinho burras de vez em quando. Porque se, por um lado, somos inteligentes ao ponto de nos apercebermos de certas e determinadas situações, por outro somos parvas-mais-parvas-não-há porque somos crentes e confiamos sempre e esperamos sempre que alguém nos venha contar a verdade. E esperamos, esperamos, esperamos e nada. Eu dou-vos um exemplo. Há um tempo atrás eu sabia que um determinado indivíduo com o qual eu tinha um relacionamento-que-não-era-um-relacionamento andava com outra miúda. Eu sabia isto apesar de ninguém me ter contado. Sabia e pronto[isto sabe-se. Há sinais que nos fazem um plim na cabeça]. E feita burra esperei que ele me contasse porque afinal ele era meu amigo, porque afinal não tinha motivo nenhum para me esconder se gostasse dela, porque afinal eu confiava nele, porque afinal era o mais certo. E ele veio? NÃO, não veio. Portanto, quero com isto tudo dizer que as miúdas sabem sempre, SEMPRE, quando há mulherio de volta dos (nossos) homens. E eles escusam de esconder, de dizer que não, porque se houver mesmo, nós percebemos. E só não dizemos nada porque não queremos parecer desesperadas e infantis e porque confiamos em vocês e esperamos que vocês sejam verdadeiros [já que muitas vezes não sabem ser fiéis] e não escondam nada e sejam as boas pessoas que tanto proclamam ser. Acreditem, se contarem tudo é mais fácil e há menos sangue e menos lágrimas e menos escandaleiras sem fim. É mais fácil ser sincero, tá? Para vocês e para nós.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Não me julgues hoje, pra que eu não tenha que te condenar amanhã!


‎.. Você é livre de fazer as suas escolhas, mas serás sempre prisioneiro de suas consequências ! *

Sinceramente deves pensar que és a madre Teresa de Calcutá. Enquanto tens tantas merdas que mais pareces uma casa-de-banho entupida.
Pergunto-te agora, are you happy now? Faz-te bem humilhar, ofender e julgar as pessoas, não? Faz-te bem ao ego? Precisas de essas pequenas vitórias pra te manteres em pé? Pareces um dementor.
Além de sonza, agora és também hipócrita(...) O pior cego é aquele que não quer ver.
Psicologicamente não saberia definir o teu perfil.
Pareces-me uma pessoa com graves traumas psicosexuais, com graves problemas de auto-estima, sociopata e um tanto quanto masoquista.
Essas preocupações de ‘fulano usou fulana’ ‘beltrana quis iludir-se’ ‘porque cincrano gosta muito de uma e a outra é para satisfazer as necessidades’ soam-me a argumentos falaciosos. Porque sabes, se you don’t give a fuck  não precisas de tentar entender ou falar de ideias e crenças dos outros, afinal tu não vives em função dos outros. Parece mais uma tentativa desesperada de auto-consolo mental , afinal, os outros são sempre os maus da fita e nós os santos.  Já ouviste aquela frase que diz ‘’quando repetimos várias vezes uma mentira acabamos por acreditar que ela transformou-se em verdade?!’’ é isso que está acontecer contigo. E cá entre nós, cada um acredita no que lhe convêm e no que quer e enquanto sentires-te apernada e veres-lhe como tábua de salvação (ou enquanto o desespero de ficar sozinha e já não ser suficientemente atraente pela idade pra começar tudo de zero desaparecerem) vais sempre ver as coisas do melhor modo pra ti e pra ele.
Pra mim tu estás é mazé a cagar-te toda de medo que te tirem o homem, isso é tudo  fruto da tua insegurança, eu posso ter 18 anos, ser kid e bastante imatura mas uma coisa eu sei: quando se está bem, quando se têm algo não se precisa de mostrar que tens ou que estás bem, ou perder tempo em show-offzinhos de 5ª porque não o fazes para os outros, mas por ti e para ti. Também não se fica a mandar boquinhas, nem celebrar triunfos por ofender/humilhar os outros. Tudo isso é típico de meninas mimadas ou jovens adultas desesperadas.
Porque a felicidade nunca é felicidade quando se passa por cima dos outros e o caminho da ofensa, da superioridade não levam a lado nenhum.
Acho que como todos, tens medo da solidão e queres segurar(-lhe) com toda força, mas lembra-te sempre disso: É possível suster água nos punhos, mas não por muito tempo!
Open your third eye and see what can’t be seen ;)

@#%!!!

"(...) e eu também não me vou dar mais, nunca mais, ao trabalho de entender alguém que nem sequer se entende a ele mesmo. (...) Então sem insinuações és uma criança que se recusa a crescer, que não sabe nada da vida e muito menos o que quer dela. (...) Acho incrível como ainda te deitas na almofada de cabeça erguida, como se gozar com alguém que sempre te quis bem, que aprendeu a gostar de ti com o feitio mais difícil de lidar, que ainda cheio de defeitos na minha boca eras perfeito, que desculpou todas as merdas que fizeste e ainda cheio de vontade e coragem me tratar como queres e bem te apetece, fosse motivo de orgulho. Se ainda assim te consideras um grande homem, então, parabéns! Espero que nunca precises."

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

would you make my life as big as the sky?

Porque quero ser isto e quero ser outra coisa. Quero ser mar e água e quero ser terra segura. Quero que me amem e ficar sozinha. Quero gostar dele e odiá-lo. Quero deitar-me, dormir e sonhar e quero dançar toda a noite. E quero dançar sempre a mesma música e músicas diferentes. Quero beber água e sumo e coca-cola e leite. Quero paz e quero festa. Quero ir para casa e quero ficar aqui. Quero ir e quero voltar. Sempre. Quero conhecer e quero ficar na ignorância. Quero beijar e quero (mais ainda) abraçar. Quero férias e quero trabalho. Quero ter inimigos e muitos amigos. Quero tu, ele, o outro e mais o outro. Quero todos e não quero nenhum. Quero comer muito e quero fazer dieta. Quero fruta e quero carne. Quero ter e não quero comprar. Quero sol e calor e frio e chuva e vento. Quero andar descalça e quero sapatos de brilho. Quero escrever com lápis, com caneta, com tinta, com cores, a preto e branco. Quero não ter nada para dizer e quero dizer tudo. Quero bater à porta e entrar sem pedir. Quero receber cartas e não responder. Quero ler muito, devorar e quero rasgar as páginas que me fazem sentir tanto. Quero receber mensagens de amor e não ter palavras. Quero tomar banho em pétalas de rosa. Quero cheirar bem e não cheirar a nada. Quero que me prendam e quero ser livre. Quero lençóis de linho e lençóis de seda. Quero-me vestir de todas as cores do arco-íris. Quero o nascer e o pôr-do-sol durante todo o dia. Quero a lua sempre comigo, em quarto crescente. Quero a Elas e a Eles e quero mais elas e mais eles, muitos mais. Quero viver no campo e nas montanhas e na cidade. Quero estar aqui e quero Barcelona e Cape e Luanda. Quero ouvir música e quero estar em silêncio. Quero forrar o meu quarto de desenhos e de palavras. Quero sorrisos, lágrimas, ombros para chorar, gritos e silêncios. Quero fazer tudo o que não fiz e não fazer algumas coisas que já estão feitas. Quero ser corajosa e quero ser frágil e ter medo. Quero proteger e quero que me protejam. Quero estar sempre lá para os outros e quero que os outros estejam sempre por mim. Quero que amanhã desapareça tudo e quero que amanhã recomece tudo outra vez. Quero aceitar e merecer o que me dão. Quero que comece e termine e recomece. Quero amar, sonhar, viver, sentir, magoar, ser magoada, fugir, esquecer, beijar, abraçar, suar, criar, acreditar. Quero o mundo inteiro dentro de mim.
E eu quero tudo.