É como numa dança, sabes? Como, por exemplo, no tango. E olha que eu sei que não gostas de dançar mas sei que gostas de tango.
Tu até podes saber os passos. Sabes que o tango tem uma forma musical binária e compasso de dois por quatro. Podes saber que o tango é dançado em linha (ronda), numa posição peito com peito ou face encostada (cara a cara).
Podes racionalizar tudo o que aprendeste: que é o ombro esquerdo que conduz, enquanto o resto do corpo se mantém ligeiramente inclinado. Que os corpos devem estar em contacto, os joelhos medianamente comprimidos e que a ponta do pé direito deve estar junto à parte interna do pé esquerdo. Que tu- por seres mulher- deves posicionar-te ligeiramente à direita do teu par. Que são apenas oito os passos principais e que depois de os decorares, dançarás o tango num ápice.
No entanto, miúda, assim que a música começa a tocar tu esqueces-te de tudo o que aprendeste. Sabes a sensação? O ritmo apodera-se do teu corpo, os teus pés ganham asas, os teus braços são dentes-de-leão esvoaçantes. Olhas o parceiro nos olhos e danças com paixão.
E esta é a diferença de quem sabe dançar, aprendeu a dançar, dança e quem é, efectivamente, bailarino.
Na tua cabeça não há nada: só a música, a luz, o ritmo, os olhos do teu par que te fitam numa atitude predadora. Mas tu sabes que, no fim, quem o tortura na dança és tu. E não há passos, lições de postura, movimentos ensaiados que te povoem a cabeça. Danças apenas como quem sente. Deixas-te ir sem intelectualizar. Sentes a música.
Não é assim tão difícil: deixa-te contagiar pelo ritmo. Sente como quem dança.