quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não compreendo às pessoas.

Num dia ‘bancam’ (passe o brasileirismo) as próprias ofendidas, choram, esperneam, insultam-te, dizem tudo que lhes vai na alma. Dizem que tu lhes estragaste a vida e culpam-te de tudo de errado que consigo se passa, inclusive, do aquecimento global, da queda do sistema capitalista, da violência, das cheias no Tejo, ou da seca em Brasília.
Nesta fase, boicotam ou abandonam as suas actividades quotidianas já que se encontram profundamente ofendidas e trantornadas (claro, muitos aproveitam pra tirar peso das costas que há muito lhes apetecia).
Palavra chave: desepero

E no ‘dia seguinte’ (pode ser um dia, uma semana, ou um mês depois) são as pessoas super-compreensivas (nunca em relação a ti, porque tu és o mais desprezível e abominável de todos os seres), argumentam que ‘tudo que reconhecemos fora é algo que está dentro de nós,  ‘verdade’ essa que parece propositadamente esquecida quando conveniente. Dizem que seguem o coração (estranho, porque não sabia que corações indicavam o caminho do insulto, mas bom, deve haver de vários tipos... bem como tamanhos), falam com paixão de perdão, de reconciliação e sobretudo de compreensão.
Palavra chave: cinismo

Depois há aquela outra fase, a do ‘tudo bem’. Familiar não?
Quando se age com indiferença (obviamente aparente), quando se retoma algumas das actividades e se agregam muitas outras que te parecem autênticos dons (já que nesse período de ‘desespero’ descobres maravilhas e um sem nº de dons que outrora desconhecias possuir).
Quando se descobre que tem que se ir ao ginásio, a natação ou voltar ao yoga  (não pelos seus sobejamente conhecidos benefícios a saúde, claro está) só pra dar aquela sensação de moving on. Quando se vai mais vezes ao salão de beleza, quando a maquiagem passa a ser um acessório quotidiano. Quando o estudo (ou trabalho) passa a ser excelente e adoras trabalhar até tarde. Anh! É a altura ideal pra conhecer novas pessoas, ou ‘mudar de ares’.
Palavra chave: compensação

Há aquela fase do joguinho (essa irrita-me particularmente)
Quando te achas o último gole de água depois de um pacote de bolacha água e sal. Quando fazes um esforço supremo pra não aparentar o querer (enquanto estás a roer-te por dentro de vontade). Podias chamar de fase do ‘quase’, do ‘mais ou menos’ ou do ‘talvez’. Da (falseada) liberdade, ou libertinagem seria o mais correcto. Aqui, já descobriste que tu és o máximo e fazes questão de lembrar-te (e a todos a tua volta) pelo menos mil vezes por dia.
Quando  te fazes de díficil, de não querer. Nesta fase dás-te bem com toda gente. Achas-te mais atraente que todos outros 6 biliões de pessoas no mundo além de te achares possuidor de capacidades extraodinárias. Embora acessos de depressão e choros ocorram muito frequentemente.
De quando em vez lembra-se de que é vítima de uma conspiração e relatas dramaticamente todo o sucedido de modo mais catastrófico possível.
O bom-humor (ainda qua aparente) é uma constante nesta fase.
Palavra chave: orgulho

[Pensa, pensa em tudo que vais dizer ou fazer já que somos seres-intencionais , os efeitos são não apenas à curto, mas a médio e longo prazo.]
Para mim tudo isso não passa de uma tentativa  estúpida de chamar atenção. Que muitas vezes resulta em dramas hollywoodianos, idiotices, actos disparatados e um infindável nº de figuras tristes.

Sopa de Letras? Não. É Sumo de Palavras.

E as cores espalham-se pelo ar em múltiplos confettis: o regozijo dourado, a euforia vermelha, a inocência azul, a verde esperança, o subtil violeta, o indeciso e o poderoso preto. Voam as cores pelo ar, enquanto o céu se mostra qual prisma multifacetado… Eu deixo a caneta correr pelo papel e vou sublinhando, riscando e tentando dar um rumo ao texto.
O vento desanuvia o calor, o jardim toca no rádio, a voz anuncia o bom tempo, eu refastelo-me em projectos futuros, no meu colchão de nuvens… deixo a energia soltar-se para cima da folha. Ah! Que suspirar, que aguardar, que vida à minha espera! Tento expressar tudo o que anseio, tento cerrar em meia dúzia de caracteres a força que a minha alma deseja (ex)pulsar. Agora páro, volto à zona de conforto e refugio-me na doçura do sotaque da cantora, tão francesa, tão ...: “Le glamour, La chanson, Les paroles…”
O Inverno continua a correr, mas já há frasgos de calor. Nem todos somos felizes com o sol e, tantas vezes, temos saudades do vento gélido, do sabor do nevoeiro matutino e do gotejar da manteiga no pão quente. Rrrag… dou uma trinca na maçã, corre-me sumo pelos olhos, a gula escorrega-me pela boca. Esta já terminou.