segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tudo vem e vai...


Tudo vem e vai
Tudo vem e vai, tudo fica e sai, tudo chega e abandona. O verão começa e acaba, um beijo lança-se e dissolve-se, tudo com a mesma brevidade assombrosa e marcada pela corrente imparável do comboio da vida, que não dá descanso a peregrinos, amantes ou tristes. ou àqueles que são tudo ao mesmo tempo. O pôr-do-sol lança a nostalgia do perdido, mas deixa-me agarrar aquele momento perdido algures entre a corrente e a vacilagem do medo, entre o bombear e o desgraçar... é aí que chego, é aí que me sento e permaneço. E tu também, se bem que noutra escala, se bem que de outra forma, se bem que com outra consciência (ou falta dela). Não sabes se é para ti que escrevo, nem nunca vais saber. Mesmo que leias, mesmo que sublinhes e puxes pelo miolo, não chegas lá porque tens que puxar pelo coração, tens que puxar pela memória, tens que puxar pelo sabor da pele, pelo segundo perdido em que os fundos se viram no brilho das armas de combate que são os olhares. E acho que já perdeste esse lenço branco pelo qual podias puxar, esse marco temporal esvaiu-se. Não em sangue, mas em nada. Desmarcou-se e saiu da vista para sempre. O olhar choroso já não o alcança. Por isso, não o podes resgatar. Mesmo que leias. Mesmo que tentes. Mesmo que finjas que não amaste. Chegaste lá e as correntes não te deixam voltar. Não da mesma forma.

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